Série idealizada pelo mesmo time do novo Star Treksurpreende com roteiro inteligente, execução bem-feita e agrada sem apelar. Chegada à programação brasileira é motivo de celebração. A estréia acontece hoje, no Warner Channel, às 22h.
O anúncio do encerramento de Battlestar Galactica teve os mesmos efeitos de uma bomba no meio dos espectadores de seriados inteligentes da atualidade. Muitos procuravam no horizonte por um substituto adequado para a derradeira hora da despedida de Adama e seus comandados. A resposta veio antes do que se esperava quando Fringe estreou na Foxnorte-americana. Depois de meia temporada, pode-se dizer que a ficção científica televisiva precisava de Fringe e é uma pena que não dispute espaço com Battlestar Galactica. Seria uma competição e tanto, com franca vantagem de BSG, diga-se de passagem, mas ainda sim uma boa briga. Os criadores – JJ Abrams, Alex Kurtzman e Alex Orci – sabiam disso e acertaram na mosca.
A chegada de Fringe deve ser festejada por agregar mais valor ao gênero da ficção científica. O momento é de grande variedade: Supernatural apostando no emocional e jovens galãs para agradar jovens e adultos; Dollhouse estreando com a aura de Joss Whedon; Lost colocando mais coisas na cabeça de seus seguidores; The Sarah Connor Chronicles apostando na ação desenfreada, e escorregando na banana; Smallvillecomeçando a perder o timing para sair de cena; e séries menores como Sanctuary (com Amanda Tapping, de Stargate: SG1) mantendo a estrutura enraizada do gênero na grade do Sci-Fi.
Fringe completa tudo isso ao mesclar tecnologia de ponta, altas doses de imaginação e um dos elencos mais acertado dos últimos anos. O nome da série vem do termo “fronteira/margem”, que é onde se desenvolve, e testa, a ciência mais avançada do mundo: armas biológicas, vírus mutantes e outras idéias malucas, como se comunicar com os mortos e até mesmo o teletransporte. Uma unidade do FBI investiga esses casos, mas conta com a ajuda de um homem incomum, um tal Walter Bishop, um dos cientistas que começou os estudos nessa área, mas foi internado num sanatório por anos. Espero que a imprensa brasileira, que não viu a série, não acredito no press release da assessoria do canal, que diz haver elementos de “sobrenatural” em Fringe. Se há uma coisa não presente ali é justamente o sobrenatural. Tudo é baseado na ciência e nas capacidades do corpo humano. Deixem os fantasmas para o pessoal de Supernatural ou Ghost Whisperer! =D
A mocinha da história é Olivia Dunham (Anna Torv), que conta com a ajuda de Walter (John Noble) e seu filho, Peter (Joshua Jackson), para impedir que mais casos bizarros vitimem centenas de pessoas. E bizarro é o mínimo para se classificar as coisas que acontecem nessa série. Entretanto, há muito mais que “monstros da semana” a serem encarados, pois, em segundo plano, existe uma grande trama que envolve o mundo todo. Em princípio, esse complô parece bem definido, colocando toda a culpa numa companhia chamada Massive Dinamic, a líder mundial em tecnologia, robótica e biotecnologia.
Excetuando-se o grande mistério, não há um quebra-cabeças constante em Fringe, assim como existe em Lost. As peças estão presentes na trama e são apresentadas ao espectador, que pode ser propositalmente enganado, mas pode juntar tudo que aprendeu quando chega a hora de dar o próximo passo. É um roteiro em constante evolução em termos de conteúdo e com diversas surpresas, mas sem soar ilógico ou excessivamente misterioso. Exatamente do jeito que o mercado precisava. Aliás, essa foi a razão que os criadores alegaram para a composição da série (que aconteceu durante os trabalhos para o novo Star Trek). E eles não podiam estar mais certos.
De qualquer forma, JJ Abrams sabia do risco de apostar alto numa série desse tipo, uma vez que seu conceito não tem grande apelo com determinadas faixas etárias cujo retorno de audiência é fundamental hoje em dia, especialmente adolescentes do sexo feminino. Joshua Jackson não é galã e Anna Torv não faz o coração dos rapazes palpitar, então, Fringeprecisa sobreviver de seu conteúdo fazendo de tudo para não decepcionar. Até o momento, tem cumprido o que promete e a trama secundária ganhou uma reviravolta fantástica no último episódio, antes do intervalo da temporada (para dar espaço a American Idol). É de tirar o fôlego. Não vejo a hora de Abril chegar! :p
Fringe não deixa a desejar para nenhum dos grandes títulos do gênero. É um programa para ser apreciado em todos os seus aspectos, especialmente o roteiro primoroso. E dá-lhe Walter!
*matéria publicada na Sci-Fi News, 133, Março, 2009. =D
Fábio M. Barreto
(Fonte:Judão)
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